34ª Bienal de arte de São Paulo /
34th
São Paulo art Biennial
4.09.2021 – 5.12.2021





© Levi Fanan /Fundação Bienal de São Paulo
O conjunto de obras que Carmela Gross (1946, São Paulo, Brasil) apresentou na 10a Bienal em 1969, remetia a elementos urbanos recobertos ou ocultos, usualmente despercebidos pelos passantes. No contexto da escalada da censura e da violência de Estado promovidas pelo regime militar, uma grande lona cinza-esverdeada recobrindo uma estrutura metálica avultada (A CARGA, 1968) aparecia não apenas como uma escultura misteriosa, mas estava impregnada de sentidos de ameaça e perigo. PRESUNTO (1968) e BARRIL (1969), as outras obras que integravam esse conjunto, eram igualmente exercícios de anotação da paisagem urbana carregados de ambivalência entre opacidade e morbidez.
Na 34a Bienal, além de reapresentar as obras expostas em 1969, Gross exibe uma obra inédita. Composta por mais de 150 monotipias, BOCA DO INFERNO (2021) resulta, nas palavras da artista, de um “exercício cotidiano de fazer e refazer massas escuras, borrões explosivos, buracos lamacentos, fogo negro, nuvens de fuligem…”. Após formar uma coleção de imagens de vulcões, Gross as processou digitalmente até gerar um grupo de signos de alto contraste e contornos evidentes. Retrabalhou em seguida essas imagens, esboçando centenas de pequenos desenhos a lápis e nanquim sobre papel. Ingressou então em um ateliê de gravura, onde trabalhou com a tinta aplicada diretamente sobre chapas metálicas, criando massas escuras que seriam em seguida prensadas sobre papel ou seda, em um processo que envolve certa dose de acaso. Assim, pelo acúmulo de diferentes estágios de síntese e transferência, a artista formou um imenso painel de manchas convulsionadas, que em suas repetições e diferenças metabolizam a sua revolta ante o contexto brasileiro contemporâneo. É por esse sentido de desabafo e desaforo que Gross nomeia seu trabalho com a alcunha recebida no século 17 pelo poeta baiano Gregório de Matos. O trabalho foi realizado no Ateliê de Gravura da Fundação Iberê Camargo.
(texto publicado no guia da 34ª Bienal de arte de São Paulo)
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